Documentos submetidos à leitura de Abraham Van Helsing IV, Vlad Drácula II, Lucy Harker e Elizabeth Bathory II.
Diário de Vlad Drácula
03 de março.
Antes de começar a escrever nesse que é meu 32º diário, vou me apresentar. Uma das maiores frustrações de minha vida foi ter encontrado um diário antigo e interessante e não saber o nome da pessoa que o escreveu, ou o que a levou a escrever o que estava na primeira página.
O 31º diário teve suas últimas trinta páginas preenchidas com muitos desgostos e aborrecimentos. Irei resumir tanto quanto possível a situação, antes de enumerar os motivos pelo qual decidi abandonar de vez meu domínio de tantos séculos.
Sou Vlad Drácula, Conde da Valáquia, e caminho na Terra há tempo o bastante para ter me esquecido minha verdadeira idade. Enquanto humano, fui príncipe e reinei. Ao adentrar na comunidade dos vampiros, fui “rebaixado” a conde. Semelhante governa semelhante, e não é produtivo, para ambas as partes, que um vampiro governe seres humanos.
Não me lembro com exatidão quando ou porque me tornei vampiro. Possivelmente, foi um acidente. Eu fazia questão de ser temido para ser obedecido, e, para reforçar o temor, bebia o sangue dos inimigos abatidos. É provável que o sangue de algum deles estivesse contaminado.
Para solidificar minha situação, casei-me com duas nobres de importantes famílias vampiras dos cárpatos. Desde o princípio, minhas relações com Svenka e Anna foram cordiais. Elas se casaram novamente, tiveram filhos, e fiquei feliz em proporcionar a eles o capital necessário para fazerem sua própria fortuna. Os humanos tendem a se escandalizar com as teias matrimoniais que se formam entre os vampiros, com o passar dos séculos, mas sempre as achei mais corretas que a monogamia hipócrita, que não legaliza a posição do amante.
Depois que os filhos de Anna e Svenka deixaram o castelo dos Drácula foi que comecei a desejar um filho meu, do meu sangue e da minha carne. Foi esse desejo, misturado a uma vontade profunda de encontrar uma esposa com a qual eu me unisse por amor verdadeiro, que me tornaram um tolo.
Tenho parentes em várias casas reais europeias e sempre gostei de visitá-los e manter um contato cordial. Essa influência fez de mim importante entre os vampiros desde muito cedo. Em uma visita à Inglaterra, conheci Linnet.
Linnet era loura e linda, mas muito pobre. Apaixonei-me por seu jeito de moça simples sem afetação. Permitam-me uma ratificação: eu não fui um tolo. Fui o rei de todos os tolos.
Encurtando uma longa história, nos casamos e, poucos anos depois, não havia mais afeto entre nós. A superficialidade e o amor ao luxo e ao poder que ela demonstrou logo que oficializamos nosso matrimônio me cansaram. Minhas prioridades eram outras. Muitos anos de amor e ódio depois, firmamos um acordo tácito: eu pagava suas contas e ela não me aborrecia com os agudos de sua voz.
Tudo estava bem até que ela pediu que tivéssemos um filho. Sugeri que fizesse como as outras e arrumasse um marido de sua preferência. Ela insistiu que fazia questão que o filho fosse meu. Resisti à ideia, como podem imaginar. Mas vocês já contrariaram uma mulher? Todos os dias durante cinquenta anos, Linnet me aborreceu com seu pedido. Há dois meses, em busca de paz, finalmente cedi.
Sim, sou tolo. O rei dos tolos. Mas foram cinquenta anos.
Ela engravidou há menos de uma semana e nosso faro acusa um garoto. Linnet quer chamá-lo Viktor, ao invés de Vlad, porque não quer que o menino seja um perdedor, como eu. Realmente, minha tolice não tem limites.
Hoje, voltei de minha caçada por alimento mais cedo e ouvi Linnet explicando a alguém que, logo que a criança nascer, irá me matar para que Viktor se torne o próximo Conde Drácula e herde o castelo e a fortuna.
Não pensem que estou surpreso. De forma alguma. Ainda assim, fico um pouco decepcionado.
Houve um tempo em que eu não hesitaria em violar o corpo da traidora, empalar a dita viva, juntamente com a criança, e servir o sangue de ambos em um banquete. Mas esse tempo está tão distante que não me lembro dele senão como uma lembrança nebulosa, que poderia pertencer a outra pessoa. Quero punir Linnet, sim, mas não envolverá algo tão grosseiro quanto violência física.
Tenho um plano, mas não ouso escrevê-lo aqui pela possibilidade de olhos estranhos lerem essas linhas. Escrevi a um amigo meu, de Amsterdã, para discutir as possibilidades. Aguardo a resposta para definir meu primeiro movimento.
Carta de Vlad Drácula a Abraham Van Helsing
03 de março
Como vai, Bram?
Já faz algum tempo que não escrevo a você, e sinto muito que essa carta precise conter um pedido.
Cedi a Linnet. Você já sabe do que falo. Guarde para si o sermão de três páginas, que sei que está preparando. Sei as consequências de meus atos. A verdade é que faz tempo que quero começar uma vida nova no anonimato, cerrando uma cortina sobre meu passado e conseguindo sucesso e respeito por meus méritos e não por minhas relações com cabeças coroadas.
Pretendo forjar minha morte, da maneira mais convincente possível, e deixar que Linnet arque com as responsabilidades de estar a frente da família Drácula, ao invés de apenas usufruir os benefícios.
Sou obrigado a admitir que você é o único dos meus amigos que é, ao mesmo tempo, confiável e possuidor de certa dose de miolos. Pode me ajudar?
Agradecido.
D.”
Telegrama de Abraham Van Helsing para Vlad Drácula
“VA INGLATERRA PT IDIOTA PT BRAM”
Diário de Vlad Drácula
10 de março.
O velho Bram! Só ele para me fazer sorrir na situação em que me encontro!
Desde que nos conhecemos, na Inglaterra, quando estudávamos Medicina, ele não deixa de ser interessante.
Em três palavras, o velhote ranzinza resumiu um sermão e um conselho dos mais sábios. É fato conhecido por todos que, a despeito de ter se passado lá uma das piores situações de minha vida lá, tenho uma preferência especial pela Inglaterra. É um lugar pitoresco, com um povo simples e divertido. Sua preocupação quase obsessiva pela decência aparente, seu horror a demonstrar o sentimentalismo interior e mesmo sua superioridade benevolente com outros povos nunca deixam de me enternecer.
Lá, não terei as centenas de ouvidos curiosos a escutarem meus planos, e minha ida lá causaria menos suspeitas que uma viagem a Amsterdã. Uma explêndida ideia, em resumo. Agora, a palavra de ordem é não me precipitar. Medirei meus passos e realizarei meus intentos com calma.
O primeiro passo é chamar meu advogado inglês ao castelo para mudar meu testamento, incluindo Viktor. E escrever novamente a Bram.
Telegrama de Vlad Drácula para Abraham Van Helsing
"IREI MAIS RÁPIDO POSSIVEL PT PRECISO BOM CORRETOR ANTES PT FAVOR ENVIAR SUGESTAO PT VLAD"
Telegrama de Abraham Van Helsing para Vlad Drácula
"PETER HAWKINS EXETER PT JUIZO PT BRAM"
Caderninho de apontamentos de Abraham Van Helsing
11 de março
Vlad diz que virá à Inglaterra o mais rápido possível. Conhecendo sua noção vampírica de tempo, evitarei agendar compromissos em agosto e setembro.
"VA INGLATERRA PT IDIOTA PT BRAM”
ResponderExcluirMorri!